Muito se fala na “maquiagem verde”, que usa o conceito de sustentabilidade para vender, mas não consegue entregar resultados. A pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lisiane Ilha Librelotto, desenvolveu o modelo ESA, que leva em consideração os aspectos econômicos, sociais e ambientais para avaliar a sustentabilidade da empresa construtora e comprovar a eficiência em construções. Veja a entrevista:
O que caracteriza uma construção sustentável?
O que caracteriza uma construção sustentável é a adoção de estratégias dentro do edifício no equilíbrio das dimensões econômicas, sociais e ambientais. O conceito de sustentabilidade surgiu como alternativa ao capitalismo. Já que não conseguimos viver sem o capital, adotamos que o capital é necessário sim, mas que as empresas que atuam dentro do mercado têm que ter responsabilidade social e impactar o mínimo possível no meio ambiente.
O que um condomínio precisa ter para ser considerado sustentável?
Entendo que um edifício não pode ser sustentável sem um ambiente urbano sustentável. Por exemplo, posso servir a uma construção uma série de tecnologias, como telhado verde ou os teto-jardins, geradores eólicos para energia limpa, placas fotovoltaicas, fachadas ventiladas, estratégias para isolamento térmico, mas tenho que também comprovar o desempenho dessas estratégias, ou seja, elas têm que ser eficazes. E o meio ambiente urbano tem que também cumprir o seu papel. Eu posso colocar essas tecnologias no edifício, elas funcionarem, mas o prédio ser uma ilha dentro daquele bairro ou daquela cidade. Então você não consegue chegar no prédio, porque as vias do bairro não comportam a quantidade de carros de moradores. A companhia de água não consegue fornecer a água, evidenciando um problema de compatibilidade entre oferta e demanda.
Como as pessoas comuns podem identificar a sustentabilidade?
Para um cliente que está à procura desse tipo de edificação, uma construção sustentável, é indicado checar junto à construtora que tipo de resultados elas já podem apresentar em relação aos edifícios que já construíram. Recomendo que, além das tecnologias que são incorporadas nesses edifícios, veja que suporte essas empresas dão para manutenção, por exemplo, dessas estratégias. Que verifiquem a credibilidade e o know-how das empresas que comercializam esses empreendimentos. O cliente tem que tentar identificar tecnologias, comprovar experiências, verificar materiais que estão sendo entregados, suporte, manutenção e condicionamento dessas estratégias.
A sustentabilidade existe na construção civil?
Hoje, eu posso te dizer que a sustentabilidade dentro da construção, em um conceito pleno, ainda não existe. O que nós temos são iniciativas, que nós temos que ver com bons olhos, porque é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada. A cultura da população local presente naquele bairro. Se há policiamento, áreas de lazer para população. E principalmente enxergando a empresa construtora e o edifício como um agente promotor do desenvolvimento urbano. Se quiser construir ali e o bairro não apresenta condições, tem de implementar as condições primeiro para depois construir, em uma parceria público/privada. Há outras iniciativas de avaliação pautadas em selos e certificações que podem ser um indicativo da sustentabilidade nos edifícios, como a certificação LEED, AQUA e destaco com veemência o Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal, que a meu ver deveria ser obrigatório pelo menos para alguns tipos de financiamentos. As certificações não são garantia exclusiva de sustentabilidade nas edificações, mas são bons indicativos de sua presença.
Como está o cenário em Santa Catarina?
Em Santa Catarina, temos sim muitas iniciativas, algumas se aproximam muito do conceito de sustentabilidade. Talvez a nossa natureza exuberante seja um apelo forte que desperta a necessidade a preservação e consumidores que valorizem iniciativas neste sentido. Também muitas das proposições como o Modelo ESA, o Selo Azul e o RTQ tiveram a participação ou são frutos de iniciativas de pesquisadores e profissionais do nosso estado. Temos na UFSC laboratórios fortes no cenário nacional, como o LABEE, LABCON e o VIRTUHAB que pensam sobre os aspectos e a complexidade de fatores que envolvemos sustentabilidade. Também promovemos um evento nacional para discutir a Sustentabilidade no Projeto, o ENSUS 2017, que ocorrerá em maio e reunirá profissionais de todo o Brasil com exposições de tecnologias e palestrantes da área. Então posso afirmar com tranquilidade que SC é uma referência neste assunto.
Fonte: clicrbs.com.br