Sancionada pelo governo federal em julho de 2016, a Lei 13.312 obriga a instalação de medidores individuais de água em todos os empreendimentos que serão entregues a partir de 2021. Além de tornar a cobrança mais justa, a adoção da solução pode gerar economia no consumo de até 40%, segundo dados do Centro Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS).
“Há alguns anos as construtoras já se anteciparam ao decreto e estão projetando seus edifícios com as instalações adequadas à implantação da medição individualizada”, revela o engenheiro Marco Aurélio Toledo Arruda, diretor da Metragem Medição Individual de Água e Gás, empresa que desenvolve o projeto e faz a instalação.
A presença dos medidores individuais de água deve ser pensada ainda na fase de projeto da edificação, pois são necessárias diferentes alterações em relação à arquitetura e engenharia. “É preciso, por exemplo, prever a existência de shaft ou cavalete acessível e com dimensões apropriadas à instalação e manutenção do sistema”, diz Arruda.
O planejamento prévio evita improvisações ou, até mesmo, o surgimento de problemas que impossibilitem a instalação. O projeto deve considerar fatores como a demanda de consumo das unidades habitacionais, pressão na rede e perdas de carga. E, ainda, características do modelo quanto à classe metrológica e vazão dos medidores.
“Há alguns anos, as construtoras já se anteciparam ao decreto e estão projetando seus edifícios com as instalações adequadas à implantação da medição individualizada”.
Marco Aurélio Toledo Arruda
A determinação das vazões para a especificação dos hidrômetros é realizada com base nos cálculos presentes na ABNT NBR 5626 – Instalação predial de água fria. “Geralmente, o método mais utilizado pelas prestadoras de serviço é o probabilístico, que estipula o consumo das unidades habitacionais nos horários de pico”, informa Arruda. Após determinar a vazão, o projetista deve escolher qual o hidrômetro mais indicado para a situação. O mercado oferece diferentes modelos de produtos, cada um com propriedades específicas e que se adaptam aos mais variados cenários. Informações sobre as características metrológicas e a pressão na rede também influenciam na especificação do equipamento.
Com o projeto preparado, a instalação do sistema deve ser feita por equipe especializada. “Os profissionais devem ser capacitados para todas as etapas de implantação”, diz o engenheiro. A definição da tecnologia que será usada na gestão do consumo recairá sobre duas das soluções mais aproveitadas hoje, que são por radiofrequência ou cabeamento. Ambas dão ao responsável pelo empreendimento a possibilidade de ter acesso às informações sobre a quantidade de água usada por cada apartamento e, também, solicitar cortes no abastecimento devido à inadimplência. Tanto a leitura dos hidrômetros quanto a interrupção do serviço são tarefas executadas por empresas terceirizadas.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
A adoção de sistema de medição individualizada oferece benefícios que vão além da redução no consumo. O profissional destaca a detecção remota de vazamentos; queda no consumo de energia elétrica causada pela diminuição no uso de bombeamento de água para o reservatório superior; economia da taxa condominial; valorização do empreendimento; e redução no volume de esgoto. A principal desvantagem será sentida pelos condôminos grandes consumidores, que terão de arcar com as despesas elevadas de sua própria conta.
EDIFICAÇÕES ANTIGAS
É possível instalar a solução em prédios antigos que não foram projetados para receber o sistema. Entretanto, as dificuldades são bem maiores. Segundo o especialista, algumas das situações mais comuns nesses casos são a existência de diversas prumadas de água nas unidades habitacionais, exigindo a instalação de vários hidrômetros; a inexistência de local pré-determinado para a implantação; a necessidade de abertura nas alvenarias, com dimensões aproximadas de 20 x 30 cm, logo abaixo do registro da prumada para a instalação do medidor; a presença de tubulação em ferro galvanizado; e a necessidade de deslocar armários e elementos decorativos para permitir a instalação.
“Nos empreendimentos já existentes, a execução do projeto causa incômodos aos moradores, como a poeira provocada pela abertura dos vãos nas alvenarias”.
Marco Aurélio Toledo Arruda
Há ainda edificações em que a mudança para o sistema individualizado é inviável, como nos casos em que há vasos sanitários com descarga acionada por válvula. É comum que, nos prédios já existentes, os custos para implantação sejam mais elevados devido às dificuldades de instalação e ao maior número de medidores que deve ser usado. “Nos empreendimentos já existentes, a execução do projeto causa incômodos aos moradores, como a poeira provocada pela abertura dos vãos nas alvenarias. Para minimizar os transtornos, é recomendável garantir proteção adequada contra impactos e sujeiras nos pisos cerâmicos, eletrodomésticos e elementos decorativos”, informa o engenheiro.
Normalmente, as empresas somente operam com a elaboração de cronograma de acesso às unidades. O documento é enviado com antecedência para o gestor do empreendimento, permitindo uma adequação da rotina à presença dos instaladores. “A maioria dos obstáculos pode ser vencido, sem representar impedimento à implantação da solução. Quando a edificação contrata uma empresa registrada no CREA e que tenha experiência, a instalação ocorre com muita tranquilidade”, ressalta Arruda.
NORMAS TÉCNICAS
As principais normas técnicas que norteiam os sistemas de medição individualizada são a ABNT NBR 15806 – Sistemas de medição predial remota e centralizada de consumo de água e gás – e a ABNT NBR 16496 – Medição de Água e Gás – Provedor de serviços de Medição – Requisitos.
GESTÃO REMOTA
Contar com solução de gestão remota para o sistema de medição individualizada permite a análise a distância, através de software especializado. Além do consumo, o programa traz informações sobre vazamentos, tentativas de fraude, medidores travados, entre outros alarmes. A tecnologia mais procurada atualmente é a medição via rádio, por ser bastante precisa e segura, permitindo leituras confiáveis.
“Também é preciso destacar a importância das ferramentas que oferecem transparência ao sistema de medição. Com isso, é possível transmitir aos condôminos dados como boletins informativos, além da criação de portal ou material impresso com conteúdo sobre o uso racional da água”, finaliza Arruda.
Fonte: www.aecweb.com.br